ORIGEM DA POLUIÇÃO

"Cerca de 8 milhões de toneladas de lixo são deitadas todos os anos nos oceanos"
Os oceanos representam 71% da superfície da Terra e 97% dos recursos hídricos do planeta, constituindo uma fonte vital de recursos biológicos, naturais e económicos.
Infelizmente, o oceano é também o recetor final da maioria dos poluentes lançados para o ambiente. O poluentes chegam ao oceano por inúmeras vias, em particular devido às descargas de efluentes e lixos domésticos ou industriais diretamente nos cursos de água ou no mar, das águas de escorrência que levam contaminantes desde a terra, da ação dos ventos e da chuva que transportam poluentes atmosféricos a larga distância ou de acidentes com navios ou infra-estruturas em alto mar.
 
Fontes poluentes resultantes de atividades terrestres: Os poluentes podem chegar ao oceano por meio de fontes pontuais, como os efluentes domésticos ou industriais, sem tratamento prévio, diretamente em leitos de rios ou no mar. As fontes não pontuais são aquelas que têm origem de forma difusa em terra e com a posterior ação da chuva, escoamento, infiltração, ventos e movimentações atmosféricas são transportadas para o mar. Os principais exemplos de fontes de poluição terrestres não pontuais são os resíduos tóxicos oriundos de lixeiras, locais urbanizados e industriais, estradas ou os nutrientes e pesticidas dos campos agrícolas que chegam até aos rios através do escoamento da água das chuvas ou da sua infiltração até aos lençóis freáticos. Outros exemplos de fontes não pontuais incluem os resíduos oriundos de grandes construções, atividades portuárias e marítimas, dragagem, mineração ou descargas.
 
Fontes poluentes resultantes de atividades no oceano: Numerosas atividades marítimas são responsáveis pela emissão de contaminantes no oceano, incluindo a descarga ilegal de lixo ou compostos tóxicos a partir de embarcações, os resíduos gerados pelo tráfego de petroleiros e navios de grande porte, a descarga de lama de dragagem ou a limpeza de tanques de combustíveis, os acidentes em oleodutos ou plataformas de petróleo, e a deposição de resíduos radioativos.
 
Fontes de poluição atmosférica: Os poluentes atmosféricos são produzidos principalmente no continente, lançados a partir da combustão de materiais orgânicos, da atividade industrial e dos escapes dos veículos motorizados. Estes poluentes são transportados a longas distância pelos ventos e movimentos atmosféricos, funcionando depois a chuva como principal agente condutor da poluição atmosférica para o oceano ou a superfície terrestre. Entre alguns dos contaminantes que chegam ao mar por via aérea contam-se o monóxido e o dióxido de carbono, óxidos de enxofre, hidrocarbonetos e óxidos de azoto, que são na sua maioria tóxicos para a saúde dos seres vivos ou dos ecossistemas. 


 

    CONTAMINANTES

    Os oceanos são atualmente o destino final de milhares de contaminantes, que podem provocar danos na saúde do ambiente e dos seres vivos. Entre os principais impatos que os contaminantes podem causar no ambiente marinho incluem-se:
    - Mortalidade de espécies causada pela libertação acidental ou ilegal de contaminantes altamente tóxicos.
    - Risco para a saúde humana e das espécies marinhas devido aos efeitos tóxicos acumulativos de alguns contaminantes ao longo da cadeia alimentar.
    - Alteração do equilíbrio ecológico dos ecossistemas devido ao possível desaparecimento de espécies chave.
    - Prejuízos económicos devido ao decréscimo das pescas ou interdição de zonas balneares.
    - Degradação de áreas de grande importância ambiental, como mangais ou corais.
    Abaixo apontamos as origens, consequências e possíveis soluções para os principais contaminantes encontrados hoje no oceano.
    • POPs

    • PCB

    • Pesticidas

    • Dioxinas e Furanos

    • Hidrocarbonetos

    • TBT

    • Radioatividade

    • Metais Pesados

    • Acidificação

    • Eutrofização

    • Coliformes

    POPs

    Os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) são compostos químicos que permanecem durante longos períodos no ambiente devido à sua alta estabilidade. Os POPs são resistentes à degradação química, biológica ou através da luz e, além de serem tóxicos, causam a sua bioacumulação.
    Independentemente do local onde foram lançados ao ambiente, os POPs são facilmente transportados a longas distâncias pela ação das águas, ventos ou pelos próprios animais, sendo atualmente encontrados em todo o mundo, até mesmo nas regiões polares.
    O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente elaborou uma lista dos doze Poluentes Orgânicos Persistentes mais problemáticos, cuja produção deve ser eliminada. Esta lista, também conhecida como “A Lista dos Doze” ou “Os Doze Sujos”, pode ser dividida em três categorias:
    • Pesticidas: Aldrina, Clordano, DDT, Dieltrina, Endrina, Heptacloro, Mirex e Toxafeno.
    • Químicos industriais: PCBs e Hexaclorobenzeno.
    • Subprodutos de combustão: Dioxinas e Furanos.
     
     
     
    A chegada dos POPs ao ambiente marinho acarreta graves riscos, uma vez que estes poluentes não se dissolvem na água e são absorvidos pelos seres vivos produtores (fitoplancton e algas). Através da ingestão das micro e macroalgas por peixes e outros animais marinhos os POP vão sendo acumulados ao longo da cadeia trófica.
    Uma vez incorporados no tecido adiposo, os POPs ficam aí retidos durante a vida do animal, e desta forma, os animais com altas taxas de gordura, como os humanos, as baleias, os ursos polares ou os golfinhos, estão particularmente suscetíveis à acumulação destes poluentes.
    À medida que estes poluentes sobem na cadeia alimentar (quando um animal contaminado é ingerido por outro animal de um nível trófico superior) os POPs sofrem um processo de bioamplificação, atingindo concentrações muito elevadas nos predadores de topo, como atum, peixe-espada, bacalhau, tubarões e, em última instância no ser humano
    Diversos efeitos negativos para a saúde humana já foram associados à contaminação dos POPs, como: tumores cancerígenos, infertilidade, efeitos adversos nos rins e fígado, doenças cardiovasculares, mudanças comportamentais como fadiga, depressão, tremores, convulsões, entre outros.
    Devido aos graves riscos destas substâncias, os POPs representam um problema mundial que requer uma solução global.
    A Convenção de Estocolmo sobre os POP identificou como objetivos a melhoria na gestão, eliminação e procura de melhores alternativas aos POPs. Nesta convenção, aprovada por 100 países, foram defendidas vários princípios:
    • O princípio da precaução: não existindo estudos científicos ou não se sabendo o resultado de determinada ação no meio ambiente ou na saúde pública, a ação não deve ser executada;
    • Auxílio financeiro dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento para a eliminação destes compostos nocivos;
    • Eliminação internacional da produção de POPs (com exceção do DDT, sendo autorizado o seu fabrico apenas para controlo de insetos transmissores de doenças);
    • A eliminação dos subprodutos orgânicos persistentes (dioxinas, furanos e hexaclorobenzeno);
    • A gestão e deposição controladas de resíduos POPs;
    • Interdições e limites estritos ao comércio de POPs. 
    Apesar de todos os acordos estabelecidos e das evidências científicas sobre os prejuízos causados na saúde humana e dos seres vivos, o oceano continua a receber milhares de toneladas de lixo e poluentes todos os anos. 
    Neste sentido, é necessária também uma maior informação da população e sua participação e exigência junto dos governos e indústria para se eliminar este problema à escala global. 

    MAR DE PLÁSTICO

    Lixo marinho 
    O lixo marinho é constituído opor uma infinidade de materiais, que chegam ao mar por inúmeras vias. Na prática qualquer resíduo descartado ou abandonado, sem ser encaminhado para os locais corretos, pode acabar no oceano, originando lixo marinho. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 80% de todo o lixo que encontramos no mar tem origem em terra, sendo levado para o mar através principalmente dos rios, mas também pela ação dos ventos.
    Os restantes 20% estão relacionados com atividades marítimas, sendo atirados ao mar a partir de embarcações ou resultando de artes de pesca abandonadas ou perdidas. Entre o lixo marinho, os resíduos de plástico constituem a fração mais representativa (entre 60 a 95%) e que acarreta maiores problemas ambientais.
     
    Após a Segunda Guerra Mundial, o plástico conquistou posição de destaque em termos industriais por ser um produto versátil, que alia por exemplo rigidez e leveza, elasticidade e transparência. No entanto, com a introdução do plástico no mercado mundial, iniciou-se também um novo ciclo de podução de materais descartáveis de tempo de vida útil muito curto, mas de degradação muito lenta e fortes impatos no ambiente. O plástico apresenta vários problemas em termos ambientais, incluindo o gasto de grande quantidade de petróleo para a sua produção, a adição de várias substâncias tóxicas no seu fabrico (como o Bisfenol-A e os ftalatos, com consequências graves para a saúde pública), a grande dificuldade na sua degradação natural (calcula-se que alguns materiais possam ficar na natureza por vários séculos) e a enorme capacidade de agregação de poluentes. Além disso, muito animais podem morrer devido à sua ingestão ou por ficarem emaranhados nestes resíduos.
    Segundo estudos recentes, das 300 milhões de toneladas de plástico produzidas atualmente por ano, cerca de 8 milhões de toneladas vão parar aos oceanos levadas pelos ventos, chuvas, esgotos, rios ou deitados diretamente nas praias ou no mar.
    Calcula-se que cerca de 70% deste lixo afunda e fica acumulado nos fundos oceânicos, que se estão a transformar na maior lixeira do planeta. Uma parte do lixo plástico fica a flutuar, estimando-se que existam 270.000 toneladas de plástico a boiar, principalmente nos chamados giros oceânicos. No maior destes giros situado no Oceano Pacífico, calcula-se que exista pelo menos seis vezes mais pequenas partículas de plástico a flutuar do que zooplâncton. Por fim outra parte é devolvida às praias pela força das ondas ou fica depositada nos gelos polares.
     
    É muito difícil de calcular o tempo de degradação dos diferentes plásticos, mas uma vez que não são biodegradáveis, pensa-se mesmo que possam permanecer na natureza para sempre (ou pelo menos por tempo indeterminado), pois mesmo fracionando-se em particulas cada vez mais pequenas, não podem ser decompostas por bactérias e outros microorganismos, mantendo intacta a sua estrutura molecular. Os cálculos que se conhecem de degradação de plástico refletem então o tempo que estes materiais demoram para deixar de ser visíveis. Entre os dados mais impressionantes, deixamos alguns exemplos:
       Redes e fios de pesca - 600 anos
       Garrafas de plástico – 450 anos
       Fraldas – 450 anos
       Sacos de plástico – 10-20 anos
       Pontas de cigarro – 2-5 anos 

    Microplásticos
    Apesar de possuir alta durabilidade, o plástico sofre degradação foto-química, isto é a ação direta do sol resseca este material e a movimentação das ondas leva ao fracionamento do plástico em partículas cada vez menores. Quanto menores são as partículas de plástico, mais contaminantes utilizados no seu fabrico (como o bisfenol-A e os ftalatos) são libertados para a água, mas maior é também a sua capacidade de absorção dos contaminantes do meio (como pesticidas, dioxinas, metais pesados, etc.).. Calcula-se que uma partícula de plastico possa absorver até 1 milhão de vezes mais contaminantes do que a água envolvente!
    Ao atingirem um tamanho igual ou menor do que 5 milímetros, os pedaços de plásticos são denominados microplásticos, e podem atingir tamanhos infímos, invisíveis à nossa vista, mas ainda muito prejudiciais.
    Além do plástico que se degrada no oceano e forma este microplástico, cada vez mais produtos de higiene pessoal (e.g. cremes de limpeza, exfoliantes corporais e branqueadores dentífricos) possuem na sua composição microplásticos (por exemplo um creme de limpeza facial pode ter até 330.000 microplásticos no seu interior). Muito vestuário apresenta também fibras de poliester na sua composição e calcula-se que cerca de 1.900 microfibras plásticas são libertadas de uma única peça de roupa sintética em cada lavagem na máquina! Um estudo recente calculou que existem cerca de 4 mil milhões de microfibras de plástico por cada km2 dos fundos oceânicos!Segundo um estudo do IMAR/FCTUNL, em Portugal verificou-se que os microplásticos que ocorrem nas praias da costa ocidental perfazem 71% do total de plásticos encontrados. Foi ainda realizada uma pesquisa desse tipo de partículas em amostras de plâncton recolhidas ao largo da costa portuguesa, tendo-se observado a presença de plástico em 63 % das amostras. Um outro estudo que analisou os conteúdos estomacais de peixes na Área Protegida do Litoral de Esposende detetou a presença de microplásticos em 100% das amostras.
    Estudos recentes estimam que a maioria dos resíduos de plástico no oceano encontram-se na forma de microplásticos, estando a flutuar à superfície, em suspensão na coluna de água depositados nos fundos oceânicos ou nas praias. Neste sentido, os microplásticos configuram-se como vetores muito importantes no transporte, transferência e exposição dos organismos marinhos a contaminantes de elevada toxidade.     
     
    Problemas
    A imensa quantidade de plástico a flutuar no oceano causa elevados impactos na biodiversidade e ecossistemas marinhos, constituindo a causa de morte de numerosos animais que podem ficar aprisionados nestes lixos ou ingeri-los por os confundirem com as suas presas. De acordo com o NOAA (National Oceanographic and Atmospheric Administration), os detritos de plástico são responsáveis pela morte de cerca de 100 mil mamíferos marinhos por ano, assim como milhões de aves, tartarugas marinhas e peixes. Um caso particular de lixo marinho são as redes de pesca perdidas ou descartadas do mar, denominadas redes fantasma por vaguearem livremente nos oceanos e continuarem a capturar animais por tempo indeterminado.
    A ingestão do lixo plástico pode levar à asfixia ou à obstrução mecânica do aparelho digestivo, bem como exponencia a exposição a contaminantes de elevada toxicidade, que se aderem facilmente a estes resíduos.
    Os microplásticos são também ingeridos pelo zooplancton ou pequenos peixes que os confundem com alimento devido ao seu reduzido tamanho e flutuabilidade, ficando assim contaminados com os poluentes que os microplásticos transportam. Após entrarem na cadeia trófica, este contaminantes acumulam-se (bioacumulação) e vão aumentando sucessivamente a sua concentração ao longo da cadeia (bioampliação), até atingirem níveis muito elevados nos predadores de topo (como o atum, peixe-espada, bacalhau, tubarões, orcas, etc.). Tal fato aumenta consideravelmente os riscos para a saúde destes animais, bem como para a saúde humana associados à ingestão de organismos marinhos, em especial de peixes predadores de grandes dimensões.
     
    Soluções
    Diante deste quadro, é urgente a adoção de medidas para minimizar este problema. Uma descrição mais detalhada das medidas propostas encontra-se descrição na secção Como Ajudar, mas lançamos abaixo algumas das mais relevantes:
    • Reduzir o consumo de plásticos descartáveis – recusar todo o consumo de embalagens, sacos plásticos ou outros materiais de plásticos que possa ser evitado
    • Reutilizar o maior número de vezes os diferentes materiais plásticos para a função a que se destinam (e.g. sacos plásticos) ou adaptar novos fins utilitários ou decorativos
    • Reciclar todo o lixo plástico já sem utilidade (colocação no ecoponto amarelo)
    • Nunca atirar lixo para o chão (usar caixotes do lixo, de preferência com tampa) nem deixar resíduos nas praias, incluindo pontas de cigarro
    • Ajudar a sensibilizar os teus amigos ou familiares
    • Participar em ações de limpeza de praias 

      POLUIÇÃO SONORA

      A poluição sonora no Oceano é provocada pela navegação de pequenos e grandes barcos e navios cargueiros, atividades de pesca, exploração ou escavações dos fundos oceânicos, testes sísmicos e pelas plataformas de exploração petrolífera e de gás natural.
      Os sonares de navegação, cada vez mais usados na indústria naval e pesqueira, emitem ultrassons que se podem propagar por vários quilómetros e interferir com o sistema de orientação (ecolocalização) de alguns cetáceos (golfinhos e baleias).
      O aumento da acidez de água do mar contribui também para o aumento da poluição sonora do oceano, já que isso provoca a redução da absorção dos sons de baixa frequência.
      A poluição sonora dos oceanos causa danos nos seres vivos marinhos, especialmente em golfinhos e baleias, que são guiados por ultrasons nas suas atividades diárias (orientação e localização de presas) e de reprodução (cantos de atração das fêmeas). Assim, além de alteração nas rotas naturais, nos hábitos de reprodução e de alimentação, este tipo de poluição sonora pode contribuir para a ocorrência de grandes mortalidades de cetáceos devido a estes animais se perderem e serem arrojados em praias.
      O combate à poluição sonora no oceano constitui, por isso, uma prioridade internacional, que implica a coordenação de diferentes esforços no campo legal, formativo e participativo.
      Nesse sentido, seria particularmente importante a adoção de motores de barcos mais silenciosos, medidas mais restritivas ao uso de sonares e de testes sísmicos para prospeção de petróleo e gás, bem como garantir a monitorização do nível de ruído causado pelas atividades humanas no oceano, incluindo nas águas internacionais.